segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Por que os jovens deixam a fé?

Mais do que em gerações anteriores, os jovens crentes entre 20 e 30 têm abandonado a fé.

Momentos importantes fazem parte da jornada de todo jovem quando ingressa na idade adulta: a chegada à universidade, o começo da carreira, a compra do primeiro apartamento, o casamento e – no caso de muitos cristãos hoje em dia – o distanciamento da fé. Para cada vez mais rapazes e moças na faixa entre os 20 e os 30 anos, tudo o que se aprendeu ao longo de anos e anos de escola dominical infantil, atividades de grupos de adolescentes ou reuniões de oração da mocidade simplesmente parece perder o sentido diante da realidade da vida autônoma e suas múltiplas possibilidades. Motivos para tal esfriamento não faltam: o sentimento de liberdade pessoal, o convite aos prazeres antes proibidos, a ênfase exagerada na vida profissional e no próprio sucesso… Longe da tutela dos pais crentes, jovens que um dia eram vistos na igreja como promissores nas mãos de Deus vão, pouco a pouco, assumindo um estilo de vida mundano. E logo já não são nem um pouco diferentes de seus amigos que jamais estiveram num culto.

Não há, dizem, uma razão específica. O que se alega é um certo cansaço da vida religiosa ou a impressão de que a história do Evangelho, afinal de contas, não é tão verdadeira assim.

Todo crente conhece pessoas nesta situação. E a quantidade de gente que deixa a igreja para trás tem aumentado – só no Brasil, segundo o último Censo, já há cerca de 14% de evangélicos confessos sem ligação formal com uma igreja. A tendência é mais aguda entre os jovens adultos, e não apenas por aqui. Na última edição da Pesquisa Americana de Identificação Religiosa, um fato chamou a atenção. A porcentagem de americanos que responderam “sem religião” praticamente dobrou nas últimas duas décadas, crescendo de 8,1% nos anos 90 para 15% em 2008. O estudo também observou que assombrosos 73% deles vêm de famílias religiosas – e quase dois terços foram descritos no estudo como “ex-convertidos”.

O resultado de outra pesquisa também foi expressivo. Em maio de 2009, no Fórum de Religião e Vida Pública, os cientistas políticos Robert Putnam e David Campbell apresentaram uma pesquisa descrevendo o fato de que jovens estão abandonando a religião em “ritmo alarmante”, cinco a seis vezes mais rapidamente do que anteriormente registrado. Fato é que a sociologia já descobriu que a migração para longe da fé cristã, por parte de jovens antes engajados na vida eclesiástica, é um fenômeno crescente. E uma resposta para este fato requer primeiramente uma análise de tal êxodo e o questionamento honesto das razões pelas quais ocorre.

ABANDONO

O presidente do Barna Group, entidade cristã de pesquisas sediada na Califórnia (EUA), David Kinnaman, revela que cerca de 65% de todos os jovens de seu país afirmam ter feito um compromisso com Jesus Cristo em algum momento de suas vidas. Kinnaman entrevistou milhares de jovens para a elaboração de seu livroUnChristian. Segundo ele, a maior parte dos ‘não-cristãos’ da sociedade hoje é formada por gente que em algum momento freqüentou igreja e serviu a Jesus. “Em outras palavras, eles são nossos antigos amigos, adoradores de outrora”, acentua.

Grande parte dos pesquisadores avalia que este dramático número de abandonos espirituais por gente na faixa dos vinte e poucos anos constitui, na verdade, uma etapa no curso da vida de quem chegou à conclusão que vale mais a pena dormir até tarde ou fazer outros tipos de programa aos domingos. O sociólogo Bradley Wright salienta que a tendência da juventude ao abandono da fé é uma característica do cristianismo contemporâneo. A questão do comprometimento moral parece estar na base do processo. Donos do próprio nariz, não poucos jovens de origem evangélica começa a mudar de hábitos, sendo mais abertos a novas experiências e menos refratários àquilo que, durante anos e anos, ouviram ser pecado.

Quando o rapaz ou a moça recém-saída da casa dos pais vai morar com o companheiro, ou encontra na faculdade amigos que fazem convites para noitadas, os conflitos entre a crença e o comportamento pessoal parecem ficar inconciliáveis. Cansados de lidar com o que lhes resta de uma consciência de culpa e relutantes em abandonar aquilo que têm como conquistas pessoais, eles preferem abandonar o compromisso cristão. Para isso, podem usar como argumentos o ceticismo intelectual ou a decepção com a igreja, mas estes são apenas motivos superficiais para esconder a razão principal. A verdade é que a base de crenças acaba sendo adaptada para corresponder às ações.

“Em alguns casos, o processo é gerado por uma decepção com a igreja, levando ao esfriamento”, aponta o pastor Douglas Queiroz, da Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ). Há dez anos, ele dedica seu ministério à juventude, aconselhando não apenas novos convertidos como gente que nasceu na igreja mas em algum momento abandonou a fé. “Eles não se identificam mais com a igreja da qual faziam parte”. Para Douglas, esse fenômeno pode ser atribuído, em parte, ao momento em que o jovem vive. Isso se dá pelo distanciamento que existe entre a igreja e a sociedade. O jovem de hoje, detentor de muita  informação, não aceita esta  relação ambígua, não suporta mais viver numa subcultura ou dentro de um gueto com postura, linguajar e pensamentos distantes do cotidiano”, comenta. Mas existem também, diz o pastor, situações em que não se trata exatamente de um esfriamento espiritual. “A pessoa simplesmente descobre que sua fé não existe, ou seja, nunca houve uma experiência individual. O jovem é cristão simplesmente porque nasceu num lar de crentes e cresceu indo à igreja.”

O texto na íntegra está em http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=23

Nota: Esse é um assunto que deveria preocupar o mundo cristão muito mais do que as guerras por audiência de programas televisivos ou pela web de evangelistas ou mesmo as discussões midiáticas que fazem alguns líderes evangélicos com o nítido intuito de se manter em evidência.  Muito se fala de uma maior busca das pessoas por religiosidade, mas dados e pesquisas que mostram o abandono da fé por parte dos jovens são passados por alto sem merecer talvez toda a atenção que deveria.

Em primeiro lugar, é importante destacar que, apesar de grande parte dos números apresentados nesse artigo de Drew Dick ser referente a entrevistas realizadas nos Estados Unidos, o pequeno compromisso de jovens com a religião ou o progressivo descaso que se vê entre esse público não é problema apenas norte-americano. É problema mundial e que afeta, também, países como o Brasil. A diferença é que aqui as pesquisas são escassas e, quando realizadas, infelizmente não se cria uma estratégia para atuar em cima dos números que ali foram revelados.

Outro aspecto é que tudo que se elenca como razão para o abandono da fé ou desinteresse religioso de jovens praticamente converge em um mesmo ponto: esfriamento espiritual. Justificativas para o distanciamento dos jovens de sua fé são apresentadas em profusão e seguem até a linha de que os cultos religiosos precisam ser mais atrativos porque, no jargão evangélico, “o mundo” oferece coisas mais espetaculares e sensacionais.

Só que algumas perguntas precisam ficar para nossa reflexão em relação a isso tudo e nortear uma busca sincera por saídas para essa situação: 

1) Os jovens têm encontrado espiritualidade nas igrejas?

2) Os jovens veem o exemplo de pais piedosos que mostram na prática cristianismo ou só se limitam a cobrar comportamento religioso exemplar?

3) O que o jovem mais precisa é de programas, cultos, ações e projetos incríveis ou de atenção e amizade cristã?

Deixo apenas essas três indagações, mas há várias outras que poderiam gerar trabalhos e pesquisas acadêmicas. Uma coisa me parece bem clara: os jovens possuem a mesma necessidade que qualquer outra faixa etária necessita, ou seja, a atuação de Deus em suas vidas. A diferença está em quanto se investe (e não se trata apenas de dinheiro, mas de tempo, influência, criatividade, etc) nas igrejas para que isso efetivamente aconteça e nos lares. 

Cobrar comportamento exemplar dos jovens é fácil e a maior parte da liderança cristã parece focada apena nisso. A parte mais difícil e menos atraente ainda é a de formar jovens cristãos. 

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