quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vinho ou suco de uva?

"Muitos cristãos se apegam a declarações da Bíblia para justificar o uso moderado de bebidas alcoólicas." 
(Rubem M Scheffel)

A Bíblia ensina a moderação na­quilo que é bom, e a abstinência da­quilo que é mau. Como exemplo de moderação, temos o conselho de Sa­lomão para comer mel "porque é sau­dável" (Provérbios 24: 13). Mas em seguida ele adverte que "comer muito mel, não é bom" (Provérbios 25:27). O excesso, mesmo nas coisas boas, é sempre prejudicial.

Já o uso de bebidas alcoólicas, por ser nocivo, é condenado nas Escri­turas. O profeta Habacuque chama o vinho de "enganoso" (Habacu­que 2:5), enquanto Salomão diz que. "o vinho é escarnecedor, e a bebida forte alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido, não é sábio" (Provérbios 20: 1).
Tais advertências, entretanto, com o tempo foram sendo ignoradas: Quan­do Isaías vivia, o uso de vinho fer­mentado tinha se tornado um pro­blema tão universal, que até mesmo os sacerdotes se embriagavam. (Ver Isaías 28:7.)

Um pouco de vinho

Os cristãos que defendem a mode­ração no beber, geralmente citam dois textos bíblicos para tentar provar sua tese. O primeiro deles é I Timóteo 5:23: "Não continues a beber somen­te água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades."

Para alguns, este texto indica que as bebidas alcoólicas não represen­tam risco à saúde. Para outros, trata­-se de uma clara recomendação para uso moderado de vinho.

Este conselho, dado por Paulo a Timóteo, tem sido seguido com pra­zer durante os últimos 19 séculos, por inúmeras pessoas amantes das bebidas alcoólicas. Assim, é importante verificar a natureza do conselho de Paulo e sua aplicação para nós hoje.

Em primeiro lugar, o conselho de Paulo a Timóteo deve ser considerado como uma expressão de cuidado paterno, e não como uma ordem. O apóstolo não está mandando que seu amado filho na fé beba vinho à vontade. O seu conselho é para que ele use um pouco de vinho, pela razão mencionada: “por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”.

Comentando este versículo, Samuele Bacchiocchi, em seu livro Wine in lhe Bible, diz: "Paulo não está aqui estabelecendo uma regra a ser segui­da por toda a cristandade, nem está “prescrevendo vinho como uma panaceia para todo tipo de doenças. Ele estava apenas fazendo uma recomen­dação que julgava útil para aliviar os problemas de Timóteo. A única conclusão legítima que se pode tirar deste texto é que é apro­priado usar uma pequena quantida­de de vinho por razões médicas."1

Veremos adiante o tipo de vinho a que Paulo estava se referindo.

Segundo alguns comentaristas, o que o texto original em grego quer dizer é: "Não bebas mais água pura: use-a misturar com um pouco de vinho."

Como medicamento, o vinho de­ve ser misturado com água, como a calda feita de uvas e outras frutas era antigamente preparada e usada como tônico para o estômago em casos de dispepsia. Quando se conhece este fato, torna-se absurdo imaginar que este texto seja uma "santa" re­comendação para beber vinho em lu­gar de água.

"A prática de misturar uma par­te de vinho em duas, três, cinco ou mais partes de água, era comum no mundo antigo. Alguns vinhos, espe­cialmente a calda grossa do suco de uva, era misturada em até 20 partes de água."2

Tipos de vinho

Geralmente se pensa que o vinho que Paulo recomendou a Timóteo con­tivesse álcool. Mas não há qualquer certeza nesse sentido, por duas ra­zões: o termo vinho era usado de ma­neira genérica para denotar tanto o vinho fermentado como o não fermentado. Em segundo lugar, há testemu­nhos históricos que atestam o uso de vinho não fermentado por razões mé­dicas no mundo antigo.

Aristóteles, no quarto século A.C., recomenda o uso de um suco de uva doce, chamado glukus em grego, por­que, diz ele, "embora chamado vi­nho, ele não tem o efeito do vinho".

Ateneus, o Gramático (280 A.D.) aconselha especificamente o uso de um tipo de suco de uva, que alguns chamam de "vinho doce", para as desordens do estômago.

Já Plínio, contemporâneo de Pau­lo, fala também do uso médico de vinho fermentado, demonstrando as­sim que os dois tipos de vinho eram utilizados como remédio. No entan­to, Plínio reconhece que o vinho fer­mentado é absorvido mais rapidamen­te e "sobe para a cabeça". Para evi­tar os efeitos colaterais do vinho com álcool, Plínio recomenda o uso de suco de uva filtrado.

"Os testemunhos de Aris­tóteles, Ateneus e Plínio in­dicam que o vinho não fer­mentado era conhecido e preferido em relação ao vinho fermentado, porque não possuía os efeitos colaterais deste último. A luz de tais testemunhos, é razoável su­por que o vinho recomen­dado por Paulo a Timóteo fosse, na verdade, não fermentado."3

O texto que analisamos indica claramente que Ti­móteo tinha o hábito de beber apenas água. Ele era abs­têmio, portanto. Se tivesse o hábito de beber vinho, es­te conselho de Paulo teria sido desnecessário. Temos razão para crer que o pró­prio Paulo havia instruído Timóteo a ser abstinente, porque anteriormente, nes­sa mesma epístola, o após­tolo diz que um bispo cris­tão, entre outras coisas, não deve ser dado ao vinho. (Ver I Timóteo 3:2 e 3.)

"Não inclinados a muito vinho"

O segundo texto utiliza­do pelos moderacionistas é o de I Timóteo 3:8: "Se­melhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho..."

Parece que Paulo está sendo mais exigente com os bispos (ou anciãos), que não devem ser dados ao vinho, do que com os diáconos. que não devem ser inclina­dos muito vinho.

O Dr. Robert Teachout, professor de Velho Testa­mento no Seminário Teo­lógico Batista de Detroit, su­gere que essa diferença en­tre as duas declarações pau­linas podem indicar duas coisas diferentes, isto é, que os anciãos foram instruídos a se abster de bebidas al­coólicas, enquanto os diá­conos deviam ser moderados no consumo de suco de uva.4

Embora esta solução pos­sa parecer forçada, está plenamente em harmonia com o duplo significado da palavra vinho e com o con­texto imediato.

Os diáconos tinham a in­cumbência de visitar os lares, a fim de arrecadar ofer­tas para assistir aos neces­sitados. Ora, nessas visitas, era costume oferecer aos diá­conos um copo de suco de uva, já que os cristãos ha­viam sido ensinados por Paulo a se absterem de be­bidas alcoólicas.

À luz desse contexto, Paulo estaria exortando os diáconos a serem modera­dos no beber suco de uva durante suas visitas aos ir­mãos. Um diácono que be­besse vários copos nos la­res visitados, logo se tor­naria conhecido como beberrão ou glutão.

Esses dois conselhos, por­tanto, não são incoerentes. Os líderes da igreja deviam-se abster de bebidas alcoól­icas. E os diáconos deviam ser moderados no consumo de suco de uva, a fim de protegerem sua própria re­putação e também a ima­gem da igreja.

Referências

1. Samuele Bacchiocchi, Wine in lhe Bible, pág. 243.
2. Ibidem, pág. 243.
3. Ibidem, pág. 245.
4. Ibidem, pág. 251. 

Fonte: IASD EM FOCO

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