sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Família e as Dívidas

Uma grande fonte de atritos em família, especialmente entre o casal, é gerada por dificuldades financeiras.. É muito comum vermos a mulher, os filhos, e mesmo o pai, pretendendo manter um nível de vida incompatível com o nível de renda. O resultado? Tensões crescentes, perda da paz de espírito, desentendimentos, noites em claro. Com freqüência, a saúde de alguém no lar é afetada de forma profunda pelas tensões geradas a partir do desequilíbrio financeiro.

Estatísticas mostram que grande parte das separações entre casais tem sua principal causa em problemas de ordem financeira. Mais ainda: muitos lares têm sido arrasados pelo suicídio de um dos cônjuges (geralmente o marido), arrastado a esse gesto extremo por problemas financeiros no lar. Quão trágicas conseqüências podem acarretar a ausência de cuidadoso planejamento doméstico!

Não podemos ignorar que muitas vezes se deixa um mau exemplo aos filhos e a outros membros da família, no tocante a este assunto. Deveríamos nos empenhar para que este problema de dívidas não se torne “hereditário”.

Há mais uma conseqüência que preciso destacar. A Bíblia apresenta valiosas lições com relação ao correto manejo das finanças pessoais e domésticas.

Certamente a Bíblia não pode ser considerada como um Manual de Administração Financeira, mas observe quão precisa ela é ao destacar o ponto ao qual estou me referindo: “O que toma emprestado, é servo de quem empresta” (Provérbios 22:7). Nossa própria liberdade pessoal acaba sendo afetada quando nos vemos enlaçados pela dívida. Ficamos servos de nossos credores.

Por que surgem as dívidas? Parece que a principal razão para o surgimento das dívidas é a ausência de correto planejamento doméstico. Se nos acostumarmos a gastar no limite de nossa renda, qualquer imprevisto poderá nos envolver em dívidas. Existem, entretanto, outras razões, que em parte podem igualmente ser consideradas como falta de planejamento:

Uma delas é a forte tendência que temos de gastar descontroladamente quantias aparentemente pequenas, exatamente pelo fato de parecerem pequenas. Este fator pode mais facilmente nos conduzir para dívidas do que grandes gastos mal feitos.

Outra grande causa de dívidas é o desejo de ostentação. Muitas vezes a situação financeira real não permite determinado gasto, mas o senso de que é necessário igualar-se a outras pessoas no vestuário, nos móveis ou no carro, força a compra do objeto desejado, ainda que à custa de fortes dívidas.

Existem, evidentemente, imprevistos que podem gerar desequilíbrios financeiros. Mesmo estes “imprevistos” podem, no entanto, ser pelo menos parcialmente previstos; isso pode ser conseguido mediante a formação de uma certa reserva financeira para atender exclusivamente a tais casos.

As altas taxas de juros podem nos levar a situações muito embaraçosas. Sempre que compramos a prazo, devemos estar certos da forma como são calculados os juros embutidos na prestação. Não acredite em promoções do tipo “cinco vezes sem acréscimo!” Calcular corretamente a taxa de juros é fundamental para se saber se a compra é razoável ou não.

Recorrendo novamente à sabedoria bíblica, descobrimos outra causa comum das dívidas: “Quem fica por fiador de outra pessoa sofrerá males, mas o que foge de o ser estará seguro” (Provérbios 11:15). Nos descartarmos de um “gentil” pedido de fiança por parte de um amigo, pode ser algo constrangedor, mas em geral é bem mais constrangedor ter que pagar dívidas que avalizamos, e que em nada nos beneficiaram. É uma boa prática o casal estabelecer entre si que nenhum dos dois prestará fiança.

O uso descuidado de cartões de crédito e cheques pré-datados têm levado muitos a situações desagradáveis. Os cartões facilitam nossa vida tanto quanto podem amargurá-la. O uso de crédito pode ser vantajoso, desde que você tenha o cuidado de anotar imediatamente as compras assim efetuadas, preferivelmente deduzindo no ato a importância gasta, de seu saldo bancário correspondente.

A última causa de dívidas que vou mencionar aqui é a ambição de ganhos muito elevados. Qualquer mercado de investimentos, em condições normais, é regulado pelo princípio do risco-retorno: quanto mais alto o risco do investimento, maior o retorno oferecido por ele. Em outras palavras, se o retorno oferecido for muito alto, esteja certo de que o risco anunciado é igualmente alto.

Como eliminar as dívidas? Existem dois caminhos básicos que necessitam ser percorridos simultaneamente por quem, encontrando-se em situação de dívida, deseja sinceramente livrar-se dela e não mais cair em suas garras. O primeiro é o caminho preventivo; o segundo, o corretivo. Insisto em que ambos precisam ser percorridos paralelamente.

Além de estar plenamente consciente de que a dívida é um sério problema, você deve também estar decidido a eliminar a dívida a qualquer custo. Isso não é fácil, mas certamente compensa. E a família toda deve participar dessa luta contra as dívidas. Por isso, adote a prática da economia como um inarredável princípio de vida. Negue-se a gastar sem qualquer necessidade.

Anote todos os gastos, analisando-os cuidadosamente. Um dos cônjuges – aquele que sente mais dificuldades em gastar – deve controlar o dinheiro da família.

Resolver o problema das dívidas domésticas ou pessoais é algo que depende de muita disciplina e total disposição àquilo que se propõe. O resultado é mais compensador, em todos os sentidos – até mesmo o espiritual. Poupar antes e gastar depois, calcular primeiro e depois partir para a decisão de dispêndio, parecem ser duas regras áureas da economia doméstica.

Deixo com você o pequeno poema escrito pelo sábio Sun Tzu, que viveu no quarto século antes de Cristo: “Com muitos cálculos se pode vencer;/ com poucos não se pode./ Que chances a menos de vitória/ tem quem não faz nenhum cálculo!”

Pr. Montano de Barros

Fonte: SÉTIMO DIA

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