Oferecem a Bíblia e os escritos de Ellen G. White alguma base para a crença na existência desses estranhos animais?
Anos atrás,
depois de terminar uma palestra para universitários e
profissionais liberais, fui abordado por um pastor. Ele me pediu que
tentasse convencer a esposa dele sobre a existência dos dinossauros.
Ela
era professora e se recusava a ensinar os alunos sobre esse tema.
Compreendi que atrás daquela negativa havia uma luta para compreender o
mistério que deixa perplexas algumas pessoas e fascina outras: Como
explicar a passada existência (e extinção) dos dinossauros, num contexto
bíblico?
A negação da existência dos
dinossauros tem se tornado mais difundida do que gostaríamos de admitir,
mesmo considerando nossa sociedade científica com pesquisas
altamente avançadas em todas as áreas, incluindo geologia e
paleontologia. Essas ciências parecem fora de lugar em nossas
instituições educacionais e raramente são consideradas por nossos jovens
na escolha de sua carreira profissional. Como cristão e
paleontólogo, tenho que enfrentar diariamente a noção de uma evolução
biológica envolvendo milhões de anos e posso compreender que algumas
pessoas temem ser envolvidas por uma filosofia contraditória às
Escrituras.
Entretanto, é possível estudar
fósseis, rochas e evolução, sem renunciar à fé. Nossa apreciação da
beleza e do mistério da criação da Terra e sua história subsequente
depende em grande parte de como e o que professores e pastores estão
ensinando nas igrejas e escolas.
No museu e na TV
Se você já visitou um museu de história
natural, provavelmente viu grandes esqueletos de dinossauros. Também
pode ter visto reproduções animadas em que, no caso de documentários da
televisão, eles parecem vivos e reais. Ao assistir a tais animações, o
espectador deve considerar alguns detalhes. Primeiramente, devemos
aceitar que os dinossauros existiram por um período de tempo na Terra e
que, em certos lugares, eles pareciam numerosos. Paleontólogos têm
encontrado evidências de sua existência em todos os
continentes, incluindo Antártica. Essas evidências incluem ossos, ovos,
tocas e pegadas. Rastros e pegadas são abundantes e não podem ser
associados a nenhuma outra criatura fora do que conhecemos como
dinossauros.
Em segundo lugar, devemos saber que os
esqueletos encontrados em museus não são tipicamente reais, mas
réplicas. Os ossos originais são muito valiosos e delicados para ser
expostos ao público; portanto, são armazenados em lugares mais seguros.
Além disso, os esqueletos dos museus são ajuntamentos de réplicas de
ossos de várias espécies oriundas de lugares distantes. Os
paleontólogos são capazes de compor a arquitetura do corpo dos
dinossauros, embora não possam ter todos os elementos da mesma
criatura. Assim, as réplicas encontradas nos museus são razoavelmente
confiáveis. Entretanto, animações vistas na TV são mais especulativas,
especialmente no que tange à cor, fisiologia, comportamento e assim por
diante.
Desaparecimento
Na coluna geológica, vestígios de
dinossauros aparecem em camadas de rochas que os paleontólogos chamam de
Triássico, Jurássico e Cretáceo. Essas camadas sedimentadas, amontoadas
uma sobre a outra, mostram características específicas, incluindo as de
certas espécies fósseis como moluscos, répteis, peixes, dinossauros e
organismos microscópicos (diatomácea, algas) que habitaram os oceanos.
Alguns paleontólogos creem que os dinossauros, bem como outros grupos de
animais e plantas, desapareceram subitamente em consequência do impacto
de um meteorito gigante 65 milhões de anos atrás. Outros duvidam
disso, por várias razões.
Muitos cientistas criacionistas acreditam
que os dinossauros desapareceram junto com outras espécies, durante o
dilúvio universal descrito em Gênesis. Esse cenário poderia incluir
atividade de um meteorito resultando em tsunamis, atividade vulcânica e
emissão de dióxido de carbono, sulfeto e outros elementos químicos
prejudiciais a plantas e animais. Portanto, a ideia de um meteorito
impactando a Terra não é necessariamente incompatível com o modelo
bíblico do dilúvio.
Apesar da falta de consenso entre os
cientistas sobre a causa do desaparecimento dos dinossauros, a mídia e a
imprensa pseudocientífica decidiram que a teoria do impacto do meteoro é
a única explicação válida. Isso está longe da realidade. Os
dinossauros desapareceram, mas não sabemos exatamente quando nem por
quê. Entretanto, a possibilidade de sua extinção durante o dilúvio do
Gênesis (com ou sem impacto) pode ser vista como hipótese
científica plausível e merece consideração.
Convivência com Humanos
Muito tem sido escrito e falado sobre
certas evidências que supostamente mostram dinossauros e seres humanos
juntos. Elas incluem o que é interpretado como pegadas de humanos e
dinossauros, quadros pré-históricos em cavernas e cerâmicas, em que
figuras humanas aparecem junto a criaturas excepcionais
muito semelhantes às atuais reconstruções desses répteis gigantes. Mas,
estudos científicos têm mostrado que esses traços têm sido mal
interpretados.
Analisemos, por exemplo, os alegados
sinais de “humanos” e dinossauros encontrados no leito do Rio Paluxy no
Texas. Poucas décadas atrás, cientistas proclamaram que essa era uma
segura evidência contra a teoria da evolução e prova da ocorrência de um
dilúvio universal. Intrigados por essa afirmação, vários cientistas
evolucionistas e criacionistas estudaram detalhadamente as marcas
encontradas nas rochas. Nesse lugar específico, o leito e a margem têm
muitas marcas por causa de erosão. Através das marcas deixadas sobre a
rocha, causadas pela circulação da água, podemos distinguir se o traço
do dinossauro é verdadeiro ou falso.
Há também estudos feitos em
laboratório. Se uma marca é autêntica, deve mostrar as camadas
achatadas de sedimento rochoso sob ela, por causa do peso do animal.
Para testar essa deformação característica, cientistas cortaram
transversalmente a marca e não observaram presença dela. Concluíram que o
molde não se tratava de real pegada humana, mas resultava de erosão
pela natureza ou forjada pelo homem. Estudos posteriores mostraram que
tais “marcas” e desenhos foram deliberadamente colocados por fanáticos
defensores da coexistência de humanos e dinossauros, acarretando, assim,
zombaria e rejeição no mundo acadêmico.
Na Bíblia
O relato da criação em Gênesis 1 fala de
um Deus que criou vida marinha bem como pássaros no quinto dia; e o
restante dos animais, no sexto dia. Embora os répteis sejam citados, os
dinossauros não são mencionados, o que não deve nos surpreender;
afinal, nos dias de Moisés, a palavra “dinossauro” não existia, nem ele
estava obrigado a mencioná-los. Ele também não mencionou outros grupos
de animais como, por exemplo, besouros, tubarões, estrelas-do-mar.
O fato de a Bíblia não citar os
dinossauros pelo nome não prova que Deus não os tivesse criado;
muito menos a estranha aparência deles. Hoje existem muitos animais
tão estranhos como os dinossauros – observe o ornitorrinco e o canguru –
que não atraem muito a atenção. Algumas pessoas creem que os
dinossauros surgiram como resultado da maldição depois do pecado de Adão
e Eva, mas a Bíblia não emite luz sobre isso, nem identifica
explicitamente os animais que mudaram como resultado do pecado nem
qual foi o tipo de mudança.
Muitos cientistas criacionistas acreditam
que os dinossauros desapareceram durante ou logo após o dilúvio. Mas, a
Bíblia também não nos dá indícios sobre o destino deles. Por causa
desse silêncio bíblico, o fato de que os dinossauros
desapareceram durante uma catástrofe mundial conhecida como dilúvio é
uma hipótese que deve ser considerada através de pesquisa científica. A
comprovação de tal hipótese deve ser feita através de dados geológicos e
paleontológicos, não por forçar a Bíblia a dizer o que ela não diz.
Finalmente, há quem pense que os
dinossauros sobreviveram ao dilúvio, mas logo desapareceram por não se
terem adaptado ao novo ambiente. Essa é outra possibilidade, pois havia
dinossauros na arca e, talvez, tenham desaparecido durante a colonização
pós-diluviana. A Bíblia menciona duas estranhas criaturas: beemote (Jó
40:15-18) e leviatã (Jó 41:1), que alguns interpretam como possíveis
exemplos dos dinossauros pós-diluvianos. Entretanto, a maioria dos
eruditos não aceita essa explicação, e esses termos são
geralmente traduzidos respectivamente como hipopótamo e crocodilo. Não
estão relacionados aos dinossauros.
Ellen White
O termo dinossauro foi usado
pela primeira vez em 1842, pelo zoólogo inglês Richard Owen, para
nomear um grupo de fósseis répteis então descobertos. O uso do termo se
expandiu enquanto novas descobertas aconteciam na Europa e América
do Norte. No tempo em que Ellen White escreveu suas primeiras
declarações sobre criação, dilúvio, ciência e fé (1864), o termo
dinossauro já era comum nos livros e revistas. Entretanto, ela nunca
usou esse termo nem qualquer outra palavra similar para se referir a
esses répteis extintos.
Numa breve declaração, em 1864, ela
escreveu: “Todas as espécies de animais que Deus criou foram
preservadas na arca. As espécies confusas que Ele não criou, e que foram
resultado de amálgama, foram destruídas no dilúvio”.1 Essa é uma
declaração favorita entre alguns adventistas para os quais ela explica
os organismos extintos, incluindo dinossauros, bem como fósseis com
características intermediárias, também conhecidos como fósseis em
transição, ou seja, aqueles que, de acordo com a teoria da evolução,
mostram mistura de características entre dois grupos de animais ou
plantas considerados consecutivos no tempo. Exemplo disso são os répteis
parecidos com mamíferos, considerados um degrau intermediário na
evolução.
Muitas pessoas leem nessas palavras o que
nós conhecemos como engenharia genética, indicando que, nos tempos
antediluvianos as pessoas praticavam acasalamento híbrido, resultando em
estranhas formas biológicas.
Entretanto, essa interpretação apresenta
problemas. O primeiro é a dificuldade para definir o que Ellen White
quis dizer com “amálgama”. Estudos mais profundos sobre a declaração não
têm dado uma resposta definitiva, e concluímos que ainda não sabemos
exatamente o significado desse termo.
Um segundo problema é a aplicação de
“amálgama” a casos reais no registro fóssil. Se “amálgama”
significa “híbrido”, como poderíamos reconhecer esse fenômeno entre
os fósseis ou entre animais e plantas dos nossos dias? Como poderíamos
determinar que espécies eram híbridas antes do dilúvio, se elas
realmente já existiam? Alguns respondem a essa pergunta dizendo que as
espécies híbridas não sobreviveram ao dilúvio, precisamente porque Deus
não quis. Mas, esse raciocínio é um círculo vicioso falho porque o
critério que usamos para diferenciar os híbridos (extinção) é o mesmo
que usamos para definir o que gostaríamos de diferenciar (híbridos). Em
outras palavras, amalgamação explica seu próprio desaparecimento, e seu
desaparecimento define o que são eles.
Ellen White continua dizendo que “desde o
dilúvio tem havido amalgamação de homens e bestas, como pode ser visto
em variedades quase infindáveis de espécies de animais”.2 Em
primeiro lugar, é importante enfatizar que ela diz “amalgamação de”; não
diz “amalgamação entre” como alguns interpretam. Em segundo lugar, se
amalgamação significa formas intermediárias, híbridas ou criaturas
estranhamente formadas, qual é o critério para reconhecê-las? Se essas
foram formadas depois do dilúvio, provavelmente se tornaram fósseis, e
outras teriam sobrevivido até agora. Como podemos diferenciá-las entre
si e de outros organismos vivos que não são híbridos? Ellen White não dá
indícios sobre isso.
No mesmo texto, ela estabelece que lhe
foi mostrado “que animais muito grandes e poderosos existiram antes do
dilúvio, e não mais existem agora”.3 E também disse em outro texto que
“houve uma classe de animais que pereceram no dilúvio. Deus sabia que a
força do homem diminuiria e esses mamutes não poderiam ser controlados
por homens fracos”.3
Entre outras, essa declaração a
respeito da vida antes do dilúvio sugere que a profetiza estava se
referindo à existência de uma ampla variedade de animais que não
sobreviveram na arca. Entretanto, não estamos seguros quanto ao
significado da declaração; não sabemos o que eram esses “animais muito
grandes e poderosos”. Porém, suas palavras não estão longe da descrição
científica dos dinossauros. Falando biologicamente, eles são um tanto
confusos, não apenas porque alguns são gigantes, mas também partes do
seu corpo (pernas, pescoço, cauda, cérebro) são, em alguns
casos, desproporcionais.
A verdade é que muitas pessoas têm lutado
para encontrar declarações de Ellen White apoiando a ideia de que os
dinossauros não foram criados por Deus, mas resultaram de amálgama antes
do dilúvio, sendo, portanto, condenados ao desaparecimento na
catástrofe universal. Essa pode ser uma possibilidade, mas, depois de
minucioso estudo de seus escritos, não encontramos apoio inequívoco para
essa conclusão.
A Escritura não menciona a existência de
dinossauros, pelo menos como nós os compreendemos, nem antes nem depois
do dilúvio. Ellen White também não os menciona, e não estamos
absolutamente seguros quanto ao significado de sua afirmação referente a
“animais muito grandes”. Porém, isso não representa evidência de que
eles não existiram. Ao contrário, as evidências disso são claras: ossos,
dentes, ovos, pegadas e impressões. Mas, em algum ponto da história,
eles desapareceram. Sua origem e seu desaparecimento estão envolvidos
num mistério que requer cuidadoso e rigoroso estudo. E isso não
compromete nossa fé nos ensinamentos bíblicos.
Referências:
1 Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek,
MI: SDA Publishing, 1864), v. 3, p. 75.
2 Ibid., p. 35.
3 Ibid., p. 92.
4 Ibid., v. 4, p. 121
1 Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek,
MI: SDA Publishing, 1864), v. 3, p. 75.
2 Ibid., p. 35.
3 Ibid., p. 92.
4 Ibid., v. 4, p. 121
Artigo escrito por Raúl Esperante
– Cientista do Instituto de Pesquisa em Geociência, Loma Linda,
Califórnia. Publicado na Revista Ministério Jul/Ago-2010.
Fonte: SÉTIMO DIA
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